Há muito tempo que os presidentes de associações de moradores de favelas vêm sendo criminalizados, e isso se dá da seguinte forma:
O sujeito se torna líder comunitário reivindicando tudo o que falta de melhoria pra comunidade, indo falar com as instituições responsáveis por cada problema e exigindo que direitos sejam respeitados.
Desta maneira consegue a confiança daquela localidade e se torna um porta-voz frente ao governo e passa a falar pela favela.
Essa relação governo-presidente de associação de moradores vêm se transformando em máquinas de cooptação fazendo com o que o líder comunitário passe a ser porta-voz do governo pra favela e não o contrário.
Quando o tal líder se nega a fazer esse papel e continua atuando em prol da favela ele é isolado politicamente, sobrando pra ele apenas o líder do trafico local (que na total ausência do estado acaba sendo a verdadeira liderança naquela localidade).
Se for provada por parte da polícia qualquer ligação entre o líder comunitário e o líder do tráfico, o líder comunitário corre o risco de responder por associação ao tráfico, fazendo assim com que a maioria desses líderes faça a opção de ser porta-voz do governo.
Como mudar isso?
As favelas cariocas nunca precisaram tanto não só da união interna como também da união entre elas, pois vejo dias difíceis pela frente.
Todos os brasileiros já ouviram falar do Caveirão, que é um veiculo blindado feito pra entrar nas favelas para confrontar os traficantes, e é chamado pelas autoridades de “pacificador”. Pois bem, a Unidade de Policia Pacificadora (UPP) chega pra pôr um fim aos confrontos expulsando os traficantes e fazendo uma espécie de mini batalhão dentro de algumas comunidades (no momento já são 11 comunidades) chamadas pelo governo e pela grande mídia de “pacificadas”.
Na minha opinião o nome (UPP) está errado, pois o que acontece nessas comunidades fere o Estado democrático de direito, impondo às comunidades um modelo de segurança do qual ela não participa da elaboração e nem da implementação.
Unidade de Ocupação e Controle Territorial Militar Permanente (UOCTMP) seria o nome certo.
Para que os direitos dos moradores sejam realmente respeitados é preciso que as comunidades exijam, e essa exigência é o que eu chamo de uma verdadeira guerra.
Nos próximos seis anos o Rio de Janeiro passará por sérias mudanças, e se as favelas não estiverem unidas elas serão a parte mais afetada com desapropriações e remoções feitas de qualquer maneira.
Essa união entre elas deveria começar pela Federação de Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ), mas poucos favelados sequer sabem da sua existência.
Tanto os partidos de esquerda que nos anos 80 tiveram uma participação efetiva dentro das comunidades, quanto os trabalhos desenvolvidos pela igreja católica que também já foram muito importantes no desenvolvimento das associações hoje existentes, estão deteriorados e desacreditados pelos moradores.
Grande parte das igrejas evangélicas prega que o mundo não deu certo e que todos têm que se preparar para o próximo mundo que virá em breve, e quem não se preparar vai pro inferno.
Desse modo vamos vendo as favelas crescerem sem conhecer as instituições responsáveis por cada problema e sem esse conhecimento fica muito difícil cobrar, e sem união a cobrança é praticamente impossível.
ONGs, eu não poderia finalizar sem falar delas.
Não são todas, mas muitas são surdas, mudas e às vezes milionárias. Elas têm grande participação na falta de esclarecimento político e social nas favelas, pois falam por elas em muitos momentos, mas não as defende como deveriam e nem esclarecem para favela as “regras do jogo” para que, no mínimo, ela possa se defender das jogadas sujas que vem sofrendo ao longo de tantos anos.
Juntas, as favelas são quase um terço da população do Rio de Janeiro. Acho que vale a pena guerrear!
MC Leonardo
(Cantor- Compositor- Colunista da Revista Caros Amigos e Presidente da APAFUNK)
Créditos Foto: Revista Vírus Planetário
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