Carta da APAFUNK a todos os Funkeiros

23/12/2010 comentários

Nos últimos 3 anos, a APAFUNK promoveu e participou de vários debates, objetivando discutir as questões que abordam o Funk.

Nesse momento peço que levem em consideração o tempo que nós dispusemos para discutir nossos problemas, pois isto foi feito em diversos setores e não só no Rio de Janeiro, como também em grande parte do país.

Estivemos em Escolas, Universidades, Sindicatos, Secretarias de Estado, Movimentos Sociais, Ministério da Cultura, Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro, espaços públicos variados e carceragens da Polinter, entre tantos outros lugares que não temos como listar todos aqui agora.

Com isso, não só informamos a todos sobre o nosso movimento, como também ouvimos opiniões e sugestões sobre o Funk.

Pesquisando sobre o nosso passado e debatendo o nosso presente, construímos alguns princípios que todos do movimento devem conhecer para que possamos nos defender de acusações futuras.


1- O Funk é um só, e assim deve ser tratado.


Quando começou a onda de lado A e lado B dentro dos bailes, o Funk pagou um preço muito alto. Para acabar com a violência nos bailes, o governo e a mídia corporativa primeiramente apelidaram os bailes violentos de bailes de corredor e dividiram o Funk para facilitar a proibição desses bailes. Não demorou muito para que TODOS os bailes fossem tachados de violentos e, em seguida, fechados. Dividir o Funk entre o Funk do Bem e o Funk do Mal é algo que nos leva a crer que no futuro estaremos todos rotulados como “Funkeiros do mal”.


2- O Funk é Cultura Popular e tem que ser respeitado como tal.


Liberdade de expressão é algo que devemos exigir que se respeite, e nos mobilizar para isso, sob a pena de futuramente termos que entregar nossas letras nas mãos da Secretaria de Segurança Pública para que ela possa dizer o que podemos ou não cantar. E isso, no regime de um Estado Democrático de Direitos no qual vivemos, não pode valer para o Funk nem pra nenhuma outra cultura.

São inúmeras as expressões artísticas que narram realidades violentas, inclusive do ponto de vista do criminoso. Em músicas, filmes e até mesmo nas artes plásticas existem expressões importantes da cultura brasileira nas quais há a estetização da violência e da vida do crime. Portanto, criação cultural e crime são coisas diferentes. O artista tem a liberdade de assumir personagens em suas músicas, em textos literários e outras manifestações sem que com isso possa ser acusado de cometer crimes ou de incitá-los. Isto é parte da cultura contemporânea.


3- Não podemos fugir de nossas realidades.


A realidade retratada nos chamados "probidões" não é contada em nenhum veículo da grande mídia sob a ótica de seus principais atores e de suas principais vítimas. Esses funks retratam o que acontece nas favelas e, por isso, não só como estilo musical, mas também como noticiário de uma realidade que se quer ocultar, eles devem ser debatidos por toda a sociedade e não criminalizados.

O Rio de Janeiro está passando por uma mudança que todos acreditam ser para melhor, mas essa mudança não pode ser a qualquer custo. A política de segurança voltada para favela não pode criminalizar os que cantam uma realidade resultante da falta de políticas públicas (política essa que até agora é só policial). O Funk, que foi varrido do asfalto para para dentro das favelas, corre o risco de ser exterminado com essa nova política e essa é nossa realidade, ou levantamos a cabeça e cobramos novas políticas para o Funk ou viraremos folclore em um futuro bem próximo.


APAFUNK - Associação dos Profissionais e Amigos do Funk

Créditos imagem: Google

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