O sábado foi de festa na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, com a realização do primeiro baile funk oficial em comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O batidão autorizado aconteceu na quadra da escola de samba Unidos da Villa Rica e teve a presença de moradores do morro e do asfalto, além de alguns turistas. Todos os ingredientes para que a festa volte a ser uma das mais famosas da Zona Sul.
Tatiana Fernanda de Oliveira tem 25 anos, mas lembra muito bem quando pulava a janela de casa para curtir o baile junto com as amigas. Isso há 10 anos, quando ela ainda era adolescente. O tempo passou e agora ela é mãe do pequeno Vinicius Oliveira, de 7 anos. A rotina mudou radicalmente, mas a ansiedade continua a mesma. A semana foi de contatos com as amigas pelo telefone, orkut e MSN. Depois de deixar tudo combinado, Tatiana voltou para casa e foi se arrumar. Além de se preocupar com maquiagem e roupa, ela também precisa guardar os brinquedos espalhados pela casa e colocar o menino para dormir antes de sair de casa.
- Já foi o melhor baile da Zona Sul e tenho certeza que vai voltar a ser. Sentimos muita falta. Era preciso se deslocar para longe se a gente quisesse dançar. Aí pega blitz, engarrafamento e brigas no meio do caminho. Estou com a mão suando de tanta ansiedade. Meu filho falou que só posso sair de casa depois que ele dormir - disse ela, enquanto arrumava o cabelo.
Com o namorado esperando já na quadra, Tatiana caprichou no visual. Vestido preto, sapato laranja, tudo pronto. Mas ainda faltava uma coisinha. Arrumar a sobrinha, de 14 anos, que também queria ir. A mãe de Luana Oliveira trabalha e levar a menina virou uma obrigação para Tatiana.
- Minha sobrinha vai estrear hoje. Meu primeiro baile foi com a idade dela, minha irmã me levou. Agora estou fazendo o contrário: levando a filha da minha irmã. Ela não quer dançar, mesmo sendo filha de passista, é muito tímida - explica Tatiana.
Depois de uma reunião na semana passada, com a presença de vários moradores, ficou decidido que o baile funk voltaria a acontecer, mas agora com regras. Na frente da quadra, Policiais Militares que estavam de plantão ajudaram a controlar o trânsito. A festa estava marcada para começar às 22h e terminou às 3h, conforme combinado. Como ainda não se acostumaram com o horário novo, muitas pessoas só chegaram quando o relógio já marcava 1h. Mesmo com o limite, o baile foi bem animado, com shows dos MCs Junior e Leonardo e Martinho, tudo sob o comando do DJ Risada, nascido e criado na Tabajaras.
- A UPP chegou, mas os eventos precisam vir também. A gente estava sentindo falta de um momento para confraternizar. Há muito tempo não ficam tantas crianças assim na rua a essa hora, moradores trocando ideia, ouvindo um som - comemora Risada, que não se importa com a presença da polícia, nem com o horário de término.
- É uma adaptação. Não estava tendo nada. Se agora tem com regra, é melhor. Aqui é como uma casa de show. O baile não é só para quem está aqui dentro. Se tocar música de apologia, minha mãe mesmo não vai gostar diz Risada.
Responsável pelo comando da unidade pacificadora, o capitão Renato Senna fez questão de chegar cedo para organizar tudo. Enquanto o baile não começava, recebeu os cumprimentos de muitos moradores, que agradeceram pela volta do funk, mas principalmente pelo diálogo por melhorias na comunidade. Sem interferir na organização do evento, o capitão fez elogios. Ele gostou da segurança, com revista pessoal a todos os convidados, da ideia de virar as caixas de som para uma área onde não existem muitas casas e achou que o volume estava em um nível moderado.
- A nossa tentativa é fazer um baile com horário definido, músicas decentes e sem apologia ou termos desrespeitosos. A comunidade não tinha diversão nenhuma e eles gostam de funk. Todos os lados cederam um pouquinho para esse evento acontecer. A ideia é continuar, fazer todos os sábados o dia do funk - garante Senna, que já sentiu mais proximidade entre a polícia com os moradores.
Quando o baile terminou, às 3h, centenas de moradores se divertiam na quadra, que não chegou a ficar lotada. Para os organizadores, a divulgação vai ajudar a encher as próximas edições do evento não só com moradores da Tabajaras como de outras comunidades da Zona Sul.
Movimento cultural
Um dos mais emocionados com a realização da festa era o MC Leonardo, presidente da Apafunk. Defensor de um estilo antigo, com letras que não fazem apologia ao tráfico, Leonardo tem se movimentado nos bastidores para que o funk seja reconhecido como movimento cultural.
- O funk não está sendo imposto a ninguém aqui hoje. Essa população precisa ter direito a cultura. É a linguagem de uma população, que precisa ser respeitada, não é reunião de vagabundo ou cultura do mal. O Tabajaras estava precisando - garante Leonardo.
Além dos cariocas, um grupo de americanos dançava ao som do batidão.
- Faço doutorado e pesquisas sobre funk. Tenho ido a muitos bailes, falado com MCs e DJs. Queria conhecer um baile em comunidade com UPP porque acho importante ter diversão para as pessoas que moram em comunidades - explica Alexandra Lippman, da Califórnia, que está há cinco meses morando no Rio.
Créditos: JusBrasil
"Se você e/ou sua empresa possui os direitos de alguma imagem/reportagem e não quer que ela apareça no blog da APAFUNK, por favor entrar em contato. Serão prontamente removidas".
comentários Postar um comentário
Postar um comentário
Respeite para ser respeitado. Se voce deseja ver seu comentário publicado seja INTELIGENTE ao comentar, caso contrário será recusado.