Primeiro baile funk da pacificada Tabajaras

29/08/2010 comentários
O batidão aconteceu na quadra da Unidos da Villa Rica, unindo moradores do morro, do asfalto e turistas

O sábado foi de festa na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, com a realização do primeiro baile funk oficial em comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O batidão autorizado aconteceu na quadra da escola de samba Unidos da Villa Rica e teve a presença de moradores do morro e do asfalto, além de alguns turistas. Todos os ingredientes para que a festa volte a ser uma das mais famosas da Zona Sul.

Tatiana Fernanda de Oliveira tem 25 anos, mas lembra muito bem quando pulava a janela de casa para curtir o baile junto com as amigas. Isso há 10 anos, quando ela ainda era adolescente. O tempo passou e agora ela é mãe do pequeno Vinicius Oliveira, de 7 anos. A rotina mudou radicalmente, mas a ansiedade continua a mesma. A semana foi de contatos com as amigas pelo telefone, orkut e MSN. Depois de deixar tudo combinado, Tatiana voltou para casa e foi se arrumar. Além de se preocupar com maquiagem e roupa, ela também precisa guardar os brinquedos espalhados pela casa e colocar o menino para dormir antes de sair de casa.

- Já foi o melhor baile da Zona Sul e tenho certeza que vai voltar a ser. Sentimos muita falta. Era preciso se deslocar para longe se a gente quisesse dançar. Aí pega blitz, engarrafamento e brigas no meio do caminho. Estou com a mão suando de tanta ansiedade. Meu filho falou que só posso sair de casa depois que ele dormir - disse ela, enquanto arrumava o cabelo.

Com o namorado esperando já na quadra, Tatiana caprichou no visual. Vestido preto, sapato laranja, tudo pronto. Mas ainda faltava uma coisinha. Arrumar a sobrinha, de 14 anos, que também queria ir. A mãe de Luana Oliveira trabalha e levar a menina virou uma obrigação para Tatiana.

- Minha sobrinha vai estrear hoje. Meu primeiro baile foi com a idade dela, minha irmã me levou. Agora estou fazendo o contrário: levando a filha da minha irmã. Ela não quer dançar, mesmo sendo filha de passista, é muito tímida - explica Tatiana.

Depois de uma reunião na semana passada, com a presença de vários moradores, ficou decidido que o baile funk voltaria a acontecer, mas agora com regras. Na frente da quadra, Policiais Militares que estavam de plantão ajudaram a controlar o trânsito. A festa estava marcada para começar às 22h e terminou às 3h, conforme combinado. Como ainda não se acostumaram com o horário novo, muitas pessoas só chegaram quando o relógio já marcava 1h. Mesmo com o limite, o baile foi bem animado, com shows dos MCs Junior e Leonardo e Martinho, tudo sob o comando do DJ Risada, nascido e criado na Tabajaras.

- A UPP chegou, mas os eventos precisam vir também. A gente estava sentindo falta de um momento para confraternizar. Há muito tempo não ficam tantas crianças assim na rua a essa hora, moradores trocando ideia, ouvindo um som - comemora Risada, que não se importa com a presença da polícia, nem com o horário de término.

- É uma adaptação. Não estava tendo nada. Se agora tem com regra, é melhor. Aqui é como uma casa de show. O baile não é só para quem está aqui dentro. Se tocar música de apologia, minha mãe mesmo não vai gostar diz Risada.

Responsável pelo comando da unidade pacificadora, o capitão Renato Senna fez questão de chegar cedo para organizar tudo. Enquanto o baile não começava, recebeu os cumprimentos de muitos moradores, que agradeceram pela volta do funk, mas principalmente pelo diálogo por melhorias na comunidade. Sem interferir na organização do evento, o capitão fez elogios. Ele gostou da segurança, com revista pessoal a todos os convidados, da ideia de virar as caixas de som para uma área onde não existem muitas casas e achou que o volume estava em um nível moderado.

- A nossa tentativa é fazer um baile com horário definido, músicas decentes e sem apologia ou termos desrespeitosos. A comunidade não tinha diversão nenhuma e eles gostam de funk. Todos os lados cederam um pouquinho para esse evento acontecer. A ideia é continuar, fazer todos os sábados o dia do funk - garante Senna, que já sentiu mais proximidade entre a polícia com os moradores.

Quando o baile terminou, às 3h, centenas de moradores se divertiam na quadra, que não chegou a ficar lotada. Para os organizadores, a divulgação vai ajudar a encher as próximas edições do evento não só com moradores da Tabajaras como de outras comunidades da Zona Sul.

Movimento cultural

Um dos mais emocionados com a realização da festa era o MC Leonardo, presidente da Apafunk. Defensor de um estilo antigo, com letras que não fazem apologia ao tráfico, Leonardo tem se movimentado nos bastidores para que o funk seja reconhecido como movimento cultural.

- O funk não está sendo imposto a ninguém aqui hoje. Essa população precisa ter direito a cultura. É a linguagem de uma população, que precisa ser respeitada, não é reunião de vagabundo ou cultura do mal. O Tabajaras estava precisando - garante Leonardo.

Além dos cariocas, um grupo de americanos dançava ao som do batidão.

- Faço doutorado e pesquisas sobre funk. Tenho ido a muitos bailes, falado com MCs e DJs. Queria conhecer um baile em comunidade com UPP porque acho importante ter diversão para as pessoas que moram em comunidades - explica Alexandra Lippman, da Califórnia, que está há cinco meses morando no Rio.

Créditos: JusBrasil

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