“Ele viu que o problema do funk, não é só do funk. É o problema da criminalização da favela e dos pobres, da perseguição aos modos de vida dessa população”, diz Mardonio Barros, militante do MST, 28 anos.
Mardonio se refere ao MC Leonardo, autor do Rap das Armas – música de abertura do filme Tropa de Elite. Funkeiro famoso no início da aparição do ritmo no Rio na década de 1990 e articulado com movimentos sociais, estudantis, deputados e mídia alternativa, Leonardo se tornou símbolo da luta para fazer do funk movimento cultural reconhecido por lei no país.
Às 17h da quinta-feira 09/04, em frente à estação Central do Brasil, ele protesta contra a lei que têm inviabilizado os bailes funk no Rio, projeto do ex-deputado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins. Seria interesse da polícia acabar com os bailes, afirma Leonardo. O funk é comumente visto como festa de propagação do uso de drogas e violência. “Injustiça”, defende o MC. Todo fim de semana, acontecem 300 bailes no Rio. Se morresse uma pessoa a cada três bailes, seriam 100 mortes por semana. “Isso não acontece”, conclui Leonardo.
Com um microfone em frente à estação lotada em horário de término de expediente, ele começa seu discurso. Reivindica e denuncia, intercalando discussão e músicas cantadas ao vivo por amigos MCs, membros da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk), fundada por Leonardo. Segundo o blog da Associação, mais de mil pessoas compareceram ao ato.
- O Leonardo sempre se preocupou em ter um tipo de funk diferente. Ele não entrou em modismos, como o de banalizar o uso das armas ou fazer da mulher uma chacota. Mais tarde, ele percebeu que o que ele fazia era um movimento político, disse Marcelo Yuka, músico, compositor e ex-baterista da banda O Rappa, que compareceu ao evento na Central.
Filho do forrozeiro Chico Motta, que tocou com Jackson do Pandeiro, Leonardo diz: “Eu não escrevo minhas músicas, eu memorizo. Minha letra é muito feia!”. Ele herdou do pai repentista o costume de passar a informação pela oralidade, sem se preocupar com o registro. A informação é a maior arma do funk, para ele. Começou a escrever e a registrar seus trabalhos há menos de um ano, quando comprou um computador. Hoje, o MC tem uma coluna mensal na revista Caros Amigos.
Leonardo não seguiu o tradicional caminho dos escritores ou pensadores até se tornar um deles. Abandonou a escola na 5ª série, depois de uma discussão com a professora e também por causa de uma cirurgia; uma das 16 que fez ao longo da vida, em função de uma displasia na perna. Mas parar de freqüentar uma sala de aula não significou para Leonardo deixar de buscar formas de entender a sua realidade.
“A vida do Leonardo é uma vida com a qual se aprende muito. Se não há instrumentos formais, a gente vai aprender se tiver um mínimo de sensibilidade de olhar para a vida. Ele é um artista humanista que acaba transformando a vida dele por causa dessa paixão que ele tem. Ele vive inteiramente os princípios que ele prega”, diz Adriana Facina, antropóloga e professora da UFF, que fez seu trabalho de Pós-Doutorado sobre funk carioca e se tornou amiga do MC durante sua pesquisa.
O hábito da leitura, Leonardo criou na igreja, onde começou a ler a Bíblia e era professor de catecismo quando criança. Por conta própria e, às vezes, sem conhecer a importância de certos autores, leu livros determinantes em sua vida, como Os Sertões, de Euclides da Cunha, que foi esquecido por um cliente na loja em que Leonardo trabalhava. Foi a primeira vez que viu a palavra favela em um livro. Mais tarde, quando trabalhou como jornaleiro, passou a ler também revistas semanais e se deu conta do monopólio de informação da mídia que não mostra a realidade das favelas.
“Em cada música, ele trata uma preocupação do coletivo, do povo favelado. É uma luta contra o preconceito, contra a criminalização, contra a desigualdade social”, reforça Adriana. O amigo do MC, Marcerlo Yuka diz que “Mesmo com a pouca instrução que chegou até a ele, Leonardo soube como usá-la. E é isso que é inteligência”.
Leonardo estava no centro da cidade desde 9h da quinta-feira dia do protesto. Tinha ido à Alerj tentar algum avanço em seus projetos com os deputados que conhece. “Ele (Leonardo) está nos representando muito bem. Toda semana vai na Alerj bater de porta em porta”, diz o MC Teco, 31 anos, músico e vice-presidente da APAFunk. No entanto, o dia era véspera de sexta-feira da Paixão, feriado, e não havia ninguém na Assembléia. Apenas Leonardo.
Mardonio se refere ao MC Leonardo, autor do Rap das Armas – música de abertura do filme Tropa de Elite. Funkeiro famoso no início da aparição do ritmo no Rio na década de 1990 e articulado com movimentos sociais, estudantis, deputados e mídia alternativa, Leonardo se tornou símbolo da luta para fazer do funk movimento cultural reconhecido por lei no país.
Às 17h da quinta-feira 09/04, em frente à estação Central do Brasil, ele protesta contra a lei que têm inviabilizado os bailes funk no Rio, projeto do ex-deputado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins. Seria interesse da polícia acabar com os bailes, afirma Leonardo. O funk é comumente visto como festa de propagação do uso de drogas e violência. “Injustiça”, defende o MC. Todo fim de semana, acontecem 300 bailes no Rio. Se morresse uma pessoa a cada três bailes, seriam 100 mortes por semana. “Isso não acontece”, conclui Leonardo.
Com um microfone em frente à estação lotada em horário de término de expediente, ele começa seu discurso. Reivindica e denuncia, intercalando discussão e músicas cantadas ao vivo por amigos MCs, membros da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk), fundada por Leonardo. Segundo o blog da Associação, mais de mil pessoas compareceram ao ato.
- O Leonardo sempre se preocupou em ter um tipo de funk diferente. Ele não entrou em modismos, como o de banalizar o uso das armas ou fazer da mulher uma chacota. Mais tarde, ele percebeu que o que ele fazia era um movimento político, disse Marcelo Yuka, músico, compositor e ex-baterista da banda O Rappa, que compareceu ao evento na Central.
Filho do forrozeiro Chico Motta, que tocou com Jackson do Pandeiro, Leonardo diz: “Eu não escrevo minhas músicas, eu memorizo. Minha letra é muito feia!”. Ele herdou do pai repentista o costume de passar a informação pela oralidade, sem se preocupar com o registro. A informação é a maior arma do funk, para ele. Começou a escrever e a registrar seus trabalhos há menos de um ano, quando comprou um computador. Hoje, o MC tem uma coluna mensal na revista Caros Amigos.
Leonardo não seguiu o tradicional caminho dos escritores ou pensadores até se tornar um deles. Abandonou a escola na 5ª série, depois de uma discussão com a professora e também por causa de uma cirurgia; uma das 16 que fez ao longo da vida, em função de uma displasia na perna. Mas parar de freqüentar uma sala de aula não significou para Leonardo deixar de buscar formas de entender a sua realidade.
“A vida do Leonardo é uma vida com a qual se aprende muito. Se não há instrumentos formais, a gente vai aprender se tiver um mínimo de sensibilidade de olhar para a vida. Ele é um artista humanista que acaba transformando a vida dele por causa dessa paixão que ele tem. Ele vive inteiramente os princípios que ele prega”, diz Adriana Facina, antropóloga e professora da UFF, que fez seu trabalho de Pós-Doutorado sobre funk carioca e se tornou amiga do MC durante sua pesquisa.
O hábito da leitura, Leonardo criou na igreja, onde começou a ler a Bíblia e era professor de catecismo quando criança. Por conta própria e, às vezes, sem conhecer a importância de certos autores, leu livros determinantes em sua vida, como Os Sertões, de Euclides da Cunha, que foi esquecido por um cliente na loja em que Leonardo trabalhava. Foi a primeira vez que viu a palavra favela em um livro. Mais tarde, quando trabalhou como jornaleiro, passou a ler também revistas semanais e se deu conta do monopólio de informação da mídia que não mostra a realidade das favelas.
“Em cada música, ele trata uma preocupação do coletivo, do povo favelado. É uma luta contra o preconceito, contra a criminalização, contra a desigualdade social”, reforça Adriana. O amigo do MC, Marcerlo Yuka diz que “Mesmo com a pouca instrução que chegou até a ele, Leonardo soube como usá-la. E é isso que é inteligência”.
Leonardo estava no centro da cidade desde 9h da quinta-feira dia do protesto. Tinha ido à Alerj tentar algum avanço em seus projetos com os deputados que conhece. “Ele (Leonardo) está nos representando muito bem. Toda semana vai na Alerj bater de porta em porta”, diz o MC Teco, 31 anos, músico e vice-presidente da APAFunk. No entanto, o dia era véspera de sexta-feira da Paixão, feriado, e não havia ninguém na Assembléia. Apenas Leonardo.
Foto: Ive Talyuli/Jornal O Debate
Texto: Laboratório de Jornalismo Impresso / Arthur Dapieve - Fernanda Macedo (turma das 9h)
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