Extinção dos bailes funk deixou 9 mil sem trabalho
Para MC Leonardo, da Apafunk, Resolução 013 estava matando economia das favelas
“Estavam matando a economia das comunidades, os encontros e o direito de se expressar dos moradores”.
DJ Gordinho prepara seus equipamentos para voltar a tocar: promessa de disciplina e fim dos proibidões
Foto: Carlo Wrede / Agência O DiaO que é a 013
Fim de eventos ameaça renovação de MCs
O fim dos bailes funk não fica apenas na questão econômica. Correntes que pensam a manifestação cultural enxergam forte ameaça à renovação do movimento. A equação é simples: o garoto escreve uma rima para um baile, ela faz sucesso e o estimula a repetir a dose, até que se consolide como MC. O fim dos eventos paralisa o processo e trava a criatividade dos candidatos a artistas.
“É preocupante porque o chão criativo do funk é o baile, as pessoas compõem para animar o baile, é no baile que eles têm idéias”, conta Adriana Facina, pós-doutorada em Antropologia e professora do Museu Nacional.
Jimmy Medeiros, coordenador da pesquisa que a Fundação Getúlio Vargas fez em 2008 sobre a economia do funk, acredita que o movimento não morrerá, já que sempre soube se readaptar aos momentos difíceis. Mas faz uma observação que tem tirado seu sono: por qual razão as empresas que subiram o morro com a pacificação não querem associar seu nome ao gênero musical? “Há dois anos a Secretaria Estadual de Cultura lançou um edital para captação de recursos em projetos ligados ao funk. Nenhuma empresa quis se associar”, revela. “Vou falar de novo com o pessoal da secretaria e tentar fazer um workshop para reabrir esta discussão. Até porque quero fazer uma segunda rodada desta pesquisa sobre os tipos de letra”.
Suellen ‘Maestra’ na Providência, onde fará o próximo documentário
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Documentário revela ‘sufoco’ sem os bailes
A força do baile funk é capaz de mover montanhas. Suellen Rangel, a ‘Maestra Misteriosa’, é um destes exemplos. Há tempos ela vem rodando as comunidades pacificadas fazendo documentários postados no You Tube sobre os efeitos do fim dos 36 bailes. Maestra já esteve em seis comunidades gravando e se prepara para subir a sétima — provavelmente a Providência.
“A série se chama ‘A Verdade sobre o Funk’”, conta ela, que começou a curtir as favelas devido a uma síndrome de pânico, que a impedia de ir a clubes. “No Andaraí, havia cinco pontos de mototáxi e três de kombis. O que sobrou só tinha duas motos”.Há quem tema a barulheira
“Reconheço que havia um exagero. Mas agora é só dizer a hora que tem de acabar e pode saber: não vou tocar proibidões”. A fala de Carlos Eduardo Gomes, o DJ Gordinho da equipe Lazer Digital, um ‘funk star’ do Complexo do Alemão, sintetiza o maior dilema dos bailes: antes valia tudo, absolutamente tudo, quando quem dava as cartas era o tráfico. “Funk é a cultura da favela. Não é porque era de um jeito que vai voltar a ser.”
Leandro Campos Silva, ex-morador do Alemão, teme que o fim da resolução 013 traga de volta o ronco das caixas de som, de segunda a segunda, até o dia clarear. Mas reconhece que os moradores de comunidades estão abandonados no quesito cultura. “O fim da 013 vai diminuir os conflitos entre policiais e moradores. Mas é preciso dar regras a estes bailes, em locais apropriados e, claro, com segurança pública”.
5 minutos com coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs
De relações públicas da Polícia Militar ao terceiro cargo mais importante na hierarquia da corporação. Alçado à condição de coordenador das UPPs, o coronel Frederico Caldas estreou em meio à crise do caso Amarildo e do fim da Resolução 013, que apesar de anunciada pelo governador, ainda não aconteceu. Nesta entrevista, Caldas revela suas impressões sobre a volta dos bailes funk às comunidades pacificadas e avisa: ainda falta terminar de pactuar como serão os novos eventos.
Coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
1. O governador decretou a extinção da 013 pelas redes sociais. Ela ainda está valendo?
Sim. Até que ela seja revogada, nada muda.
Sim. Até que ela seja revogada, nada muda.
2. E quando isto vai acontecer?
Já tivemos três reuniões no Palácio Guanabara, com a Casa Civil, para tratar deste assunto. Estamos discutindo o conteúdo, é preciso equilibrar as exigências feitas a eventos no asfalto com as de eventos em comunidades. Creio que será em breve.
3. O que é este equilíbrio que o senhor fala?Já tivemos três reuniões no Palácio Guanabara, com a Casa Civil, para tratar deste assunto. Estamos discutindo o conteúdo, é preciso equilibrar as exigências feitas a eventos no asfalto com as de eventos em comunidades. Creio que será em breve.
É preciso dividir esta responsabilidade, a prefeitura precisa ser protagonista, junto aos bombeiros, a Defesa Civil e a própria Polícia Militar. E é preciso também encontrar o equilíbrio entre o direito de quem vai participar do evento com o de quem não quer participar.
4. É possível acontecer um baile sem ameaça à segurança?
O tráfico se aproveitar não pode nunca ser argumento para se proibir bailes. É possível haver bailes funk sem ameaças à segurança sim, desde que em localidades pacificadas.
5. Há muitas queixas sobre o barulho provocado pelos bailes. Como resolver isto?
É preciso pactuar horários, decibéis, local, responsabilidade do organizador e neste ponto a 013 pode servir de base. Mas precisamos buscar alternativas porque estas pessoas precisam de lazer. Vou participar da próxima reunião.
5. O senhor acha que a concentração de poderes nas mãos dos comandantes das UPPs, por conta da 013, prejudica a relação entre moradores e policiais?
O caminho aponta mais para dar esta responsabilidade à prefeitura. É desejável e importante tirar este poder das mãos dos comandantes das UPPs, pois isso não é sua missão.
Créditos: O DIA
comentários Postar um comentário
Postar um comentário
Respeite para ser respeitado. Se voce deseja ver seu comentário publicado seja INTELIGENTE ao comentar, caso contrário será recusado.