Às 22h deste sábado (28), na Ladeira dos Tabajaras, acontecerá o primeiro baile funk da era da pacificação dos morros cariocas – os pancadões estavam proibidos desde janeiro deste ano. Agora, o ritmo musical característico do Rio voltará a animar o morro dos Tabajaras, favela situada no coração de Copacabana, bairro da zona sul carioca.
Na noite deste sábado, as mulheres que puderem pagar R$ 5 e os homens que estiverem dispostos a desembolsar R$ 7 na bilheteria da escola de samba Unidos de Villa Rica – que fica no alto da comunidade – poderão dançar livremente e com todo suporte da Polícia Militar do Rio o som de MC Martinho e de Eduardo da Duda's Disco Funk.
O evento, que foi cuidadosamente costurado pela Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (conhecida como Apafunk), por policiais, por políticos e por moradores dos Tabajaras ao longo de inúmeras reuniões, terá, no entanto, que obedecer a regras rígidas.
As mais importantes – como já era de se esperar – estão relacionadas às caixas de som. Elas deverão estar voltadas para a parte menos habitada do morro, não poderão disseminar conteúdo pornográfico nem os chamados proibidões (funks que fazem apologia ao crime). Além disso, elas serão desligadas às 3h da manhã em ponto, impreterivelmente.
“É a hora do funk de respeito”, resumiu, rindo, o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dos Tabajaras, o capitão Renato Sena. “Num primeiro momento, a Apafunk pediu que o som rolasse até as 5h, mas eu disse que até as 3h estava de bom tamanho para um primeiro baile”, continuou o policial.
Funk pacificador
Desde 14 de janeiro, quando Sena e seus homens entraram no morro para combater o crime local, a comunidade não ouve pancadões. Neste sábado, depois de 227 dias de convivência – e angustiada abstinência por parte dos amantes do ritmo –, o funk terá uma chance para mostrar que pode ser divertido, bem organizado e até mesmo respeitador.
“Nós reconhecemos que a comunidade estava carente de eventos, de diversão, e que o funk movimenta o comércio e leva dinheiro ao morro”, ponderou Sena. “Então reunimos os funkeiros e os moradores e fizemos uma votação com urna e tudo”, contou ele. O escrutínio constatou a popularidade do ritmo. “Dos setenta presentes, só 10% foram contra a volta dos bailes”, disse o comandante.
Quando fala dos minutos finais da apuração, o comandante confessa ter se surpreendido com o posicionamento de algumas senhoras que participavam do encontro. Tinha certeza de que elas seriam contra o funk, mas depois se emocionou ao ouvir seus depoimentos: “Elas defenderam a volta do baile, dizendo que não querem que seus netos frequentem favelas não pacificadas”, contou Sena.
Segundo dados da Apafunk, o ritmo – essencialmente carioca – emprega dez mil pessoas e movimenta dois milhões de reais por mês. MC Leonardo, que hoje está à frente da associação, foi a cabeça pensante e os braços articuladores por trás da conquista deste sábado.
Diz-se ansioso para provar que o funk é uma expressão cultural popular, barata, que cabe no bolso do favelado e que é feita sobre ele, por ele e para ele. “Um baile não é uma reunião de vagabundos e de prostitutas”, esbraveja.
Requisitos
Para conseguir a restauração do funk, MC Leonardo precisou cumprir todos os requisitos da resolução 013 da Secretaria Estadual de Segurança para eventos públicos. A quadra da escola de samba Unidos de Villa Rica dispõe tanto do alvará da Prefeitura quanto da autorização do Corpo de Bombeiros para reunir até quinhentas pessoas numa festa. “O acesso e o estacionamento vão ficar por conta da CET-Rio, que regula o tráfego no resto da cidade. Vai dar tudo certo”, repete Leonardo, animado.
O capitão Sena, por sua vez, aumentará em vinte homens a equipe de plantão nesta noite. Terá sessenta homens à sua disposição, além dele mesmo, que promete estar presente até o fim da festa.
“Se o acordo feito entre funkeiros, policiais e moradores for quebrado, a polícia vai intervir. O combinado é o combinado e nunca sai caro. O povo tem que entender que viver em sociedade supõe exigir direitos, mas também cumprir deveres”, avisou Sena, em tom professoral.
O deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, que participou ativamente nas negociações para a realização deste baile, comemora a conquista daquilo que vem sendo considerado um projeto-piloto para a volta do funk às favelas pacificadas. Faz, no entanto, uma ressalva: “A polícia, que há anos cultiva um caldo de preconceito contra tudo que vem da favela, não pode exercer papel de censor”.
O coronel Robson Silva, que está à frente do Comando da Polícia Pacificadora, garante que o papel da PM será apenas o de viabilizar debates. “Não existe isso de ser xerife ou síndico. A pacificação não é um estado policial. Queremos que tudo aconteça dentro do que foi pactuado”, declarou.
Se tudo der certo na Ladeira dos Tabajaras, há projetos para organizar outros bailes no morro do Cantagalo e na Cidade de Deus. MC Leonardo anda eufórico.
É que, além dessas conquistas, no dia 22 de setembro uma festa no Circo Voador, casa de shows do centro da cidade, comemorará o primeiro aniversário da lei número 5543 de 2009, que definiu o funk como movimento cultura e musical de caráter popular.
Créditos: Cristina Tardáguila UOL online
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