O CNPJ só deve sair na semana que vem, mas esperar a burocracia legal para ver o movimento reconhecido não fazia parte dos planos da Associação de Profissionais e Amigos do Funk (ApaFunk). Criada há um ano e três meses, a entidade conseguiu mobilizar os funkeiros, derrubar uma lei que impedia a realização dos bailes e terminar a semana representada no gabinete do governador Sérgio Cabral. Tudo porque uma frase mexia com os brios de um inquieto MC Leonardo:
— A ApaFunk nasceu de uma negação que a gente recebeu: “Aqui, funk não toca”. Essa frase ficou na nossa cabeça desde o começo de 2000. Ano passado, com a minha entrada no meio universitário, fui conhecendo movimentos sociais e ela foi criada — explica Leonardo, presidente da ApaFunk.
Encontro na FGV
O MC descobriu as universidades através de Adriana Facina, antropóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), que fez um estudo sobre o ritmo.
— Cursei só até a 5 série, mas já fiz palestra na Unicamp e em todas as públicas aqui do Rio. A ApaFunk existe para criar mitos e ocupar espaços que o funk ainda não ocupou — garante ele.
Na quarta-feira, a diretoria da associação falará sobre políticas públicas para a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Baile com a segurança da Polícia Militar
Ex-morador da Rocinha, onde vive sua família — incluindo seu irmão e parceiro de dupla, Júnior —, hoje Leonardo vive na Taquara, mas faz questão de lembrar, a todo momento, as origens. O MC afirma que o funk ficou na marginalidade por um erro do poder público:
— Os moleques da favela têm que notar que são agentes culturais, que têm papel importante nesta cidade. Não podemos discriminar a linguagem da juventude. Se não, a perderemos para o tráfico. O governo não dá um centavo para o funk e quer que ele seja puro.
Leonardo defende que a Polícia Militar faça a segurança na porta dos bailes.
— Se a polícia estiver na porta para dar segurança a quem entra e sai, o baile será outro. O comandante da PM quer saber nossa proposta.
Volta aos clubes
O presidente da ApaFunk quer a revitalização dos clubes que pararam de fazer bailes com as equipes de som:
— A Apafunk não vai fazer baile na boca de fumo. Vai fazer nos clubes. Na favela, você já fica a semana toda, quer ver gente diferente. O baile ilegal não vai acabar. Vai continuar existindo porque o traficante gosta de funk e não vai ao clube.
No princípio, uma batalha desacreditada
A mobilização da ApaFunk para derrubar a Lei 5.265/2008, do deputado cassado Álvaro Lins — que impedia a realização de bailes funk —, começou dois meses depois da criação da entidade. Apesar dos 17 anos de carreira e de ser conhecido por fazer letras de protesto e questionamento, MC Leonardo não encontrou adesão num primeiro momento:
— Diziam que a Alerj era racista e não era o caminho.
Na última terça-feira, a lei foi revogada e o funk reconhecido como patrimônio cultural.
— Nosso estatuto e toda a papelada foram feitos pelo DPQ (Direito para Quem?), da Uerj. Um grupo de formandos de direito, brancos, que nunca foram a uma favela. Mais democrático impossível.
Assista ao vídeo com o rap dos irmãos MCs Júnior e Leonardo, que não toca nas rádios
Créditos: Jornal Extra/RJ
comentários: 2 Postar um comentário
outubro 09, 2009
Leonardo
Uma coisa muito importante que você pode articular para o blog da Apafunk é a memória dos mcs no Rio de Janeiro- talvez alguns pesquisadores já tenham este material - o blog não pode ser só para registrar eventos ocorridos na cidade - pode e deve ser uma referência nacional- pense nisto. Um caráter pedagógico para quem não conhece e não gosta por pensar que funk é só pornografia e apologia ao crime.
O momento é ideal pela visibilidade alcançada, mas o ritmo natural de tudo é cair no esquecimento- neste sentido é preciso ampliar a discussão - e fazer do blog uma referência.
outubro 10, 2009
Oi Luciane!
Obrigada pelo seu contato.
O blog Funk de Raiz já resgata essa memória e estamos ligados um ao outro. Os dois são interligados, estão no processo e nessa luta unidos.
Acredito que um dia seremos um só!
Postar um comentário
Respeite para ser respeitado. Se voce deseja ver seu comentário publicado seja INTELIGENTE ao comentar, caso contrário será recusado.